Eletroconvulsoterapia e Cetamina: Perspectivas Modernas no Tratamento da Depressão

Eletroconvulsoterapia e Cetamina: Perspectivas Modernas no Tratamento da Depressão

Uma análise comparativa entre o tratamento da depressão com Eletroconvulsoterapia (ECT) e a Terapia Endovenosa com Cetamina (TEC).

A Eletroconvulsoterapia (ECT) e a terapia endovenosa com cetamina (TEC) são dois métodos distintos de tratamento para a depressão, cada um com suas características, mecanismos de ação, vantagens e limitações.

Eletroconvulsoterapia (ECT):

Mecanismo de Ação: A ECT envolve a passagem de correntes elétricas pelo cérebro para induzir breves convulsões. Embora o mecanismo exato não seja completamente entendido, acredita-se que a atividade elétrica induzida altere a neuroquímica cerebral e os padrões de atividade neural, levando a efeitos antidepressivos.

Indicações: Geralmente é utilizada em casos de depressão grave, particularmente quando há risco iminente de suicídio, ou quando outros tratamentos, como a medicação, não foram eficazes.

Efeitos Colaterais: Pode incluir confusão temporária, desorientação e perda de memórias recentes. A ECT é geralmente considerada segura, mas esses efeitos colaterais podem ser significativos para alguns pacientes.

Efetividade: É reconhecida como uma das terapias mais eficazes para a depressão grave, com uma resposta rápida, o que pode ser crucial em situações de risco de vida.

Terapia Endovenosa com Cetamina (TEC):

Mecanismo de Ação: A cetamina é um anestésico dissociativo que atua em receptores NMDA no cérebro e, também, em vários outros receptores, que não cabe aqui mencionar. Ela pode promover a liberação de neurotransmissores e estimular a formação de novos neurônios e  novas sinapses, potencialmente revertendo os danos relacionados ao estresse e à depressão.

Indicações: Usada principalmente em casos de depressão resistente ao tratamento. A cetamina é notável por proporcionar alívio rápido dos sintomas depressivos, pensamentos de suicídio e de auto agressão, agindo muitas vezes dentro de horas ou dias.

Efeitos Colaterais: Podem incluir náuseas, aumento da pressão arterial, desorientaçãoe experiências dissociativas durante a infusão.

Efetividade: Tem se mostrado promissora no tratamento rápido da depressão e, também, pode reduzir pensamentos suicidas. Sua eficácia a longo prazo e o melhor protocolo de tratamento ainda estão sendo estudados.

Comparação e Contraste:

Velocidade de Resposta: Ambos os tratamentos podem oferecer alívio rápido dos sintomas da depressão, o que é uma vantagem significativa sobre os antidepressivos tradicionais.

Efeitos Colaterais: A ECT tende a ter efeitos colaterais mais preocupantes relacionados à cognição e memória, enquanto a TEC pode causar efeitos dissociativos e psicomiméticos.

Modo de Administração: A ECT requer anestesia geral e é normalmente realizada em um ambiente hospitalar, enquanto a TEC é menos invasiva e pode ser administrada em um ambiente ambulatorial, em clínicas porte 3 e hospitais porte 4.

Aceitação e Estigma: A ECT muitas vezes carrega um estigma maior e pode ser percebida como um tratamento mais extremo, enquanto a cetamina, sendo um medicamento relativamente novo para a depressão, está se tornando mais aceita à medida que mais pesquisas validam seu uso.

Previsão Futura:

ECT: Continuará a ser uma opção importante, especialmente para casos graves e de risco de vida, embora seu uso possa ser limitado devido aos efeitos colaterais e à percepção pública.

Cetamina (TEC): O interesse na cetamina está crescendo, tanto para a depressão quanto para outros transtornos de humor e dor, e é provável que seu uso se expanda à medida que mais pesquisas forem realizadas e novos protocolos de tratamento sejam desenvolvidos.

Ambas as abordagens têm seu lugar no tratamento da depressão, e a escolha entre elas depende das necessidades individuais do paciente, da gravidade da condição e da resposta a tratamentos anteriores. A decisão deve ser tomada por um profissional de saúde qualificado, considerando todos os fatores relevantes do paciente.

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